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Arte Contra a Opressão

   Atrás de uma das salas do Palácio Universitário, jovens varrem e passam pano no chão. Não parece, mas começa ali mais um ensaio teatral do espetáculo Bichas, e a faxina foi uma das formas que o elenco encontrou para se traduzir como um coletivo. Dirigido por Gabriel Pardella a partir de um texto escrito por Livs Ataíde, o musical aposta na representação de performances drags para falar da falta de diversidade.

   Durante os ensaios surgiu o nome do grupo, Close Coletivo. A equipe também levou o tema para além dos palcos e, em sua página no Instagram, se manifesta em defesa da causa LGBTQ. A página é ao mesmo tempo fórum de debates e diário de campo dos ensaios, e lá é possível acompanhar, em vários vídeos, a evolução das performances até a apresentação.

   Para viver drags, 11 homens e mulheres do elenco passaram por um processo extenso de aprendizado. Foram cinco meses de ensaio, com treinamento de corpo e linguagem a partir de jogos de improvisação, preparação de voz, canto e dança, além da discussão de figurino. Cada personagem foi pensado individualmente. Os ensaios resultaram em um programa performativo, com apresentações em locais públicos para que, a bordo de saltos e cílios postiços, o elenco vivesse a experiência de ser drag. Para muitos atores, foi a primeira vez como drag. Uma das performances aconteceu no shopping Rio Sul, em Botafogo. A apresentação e a reação do público foram filmadas e postadas na página pública do Close Coletivo.

    Até a reta final dos ensaios, os jovens atores mantiveram o estranho costume de limpar a sala. Para eles, era como se a faxina representasse a opção pelo trabalho em equipe, mostrando a vontade e união do grupo em todos os processos que envolveram a realização do espetáculo, “com todo mundo junto e no mesmo barco”.

    Outro desafio que Bichas oferece ao público é entrar em um universo pouco explorado pela sociedade, o das drags, para discutir que espaço elas podem e conseguem atingir. Segundo a Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais (ILGA) e o Grupo Gay da Bahia (GGB), o Brasil é o país que mais comete homicídios por homofobia na América, com uma taxa de 1,05 mortes por dia. O número é o maior já registrado desde1980. Num país que mata LGBTQs, o recado de Bichas é usar a arte como forma de combater a opressão.  

Por Fernanda Casagrande

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